sábado, 3 de setembro de 2011

DÍVIDAS ELEVADAS COM CARTÕES DE CRÉDITO - Como resolver?

Mergulhar na roda viva do crédito pode paralisar a vida de uma pessoa. Qual é o limite de cada um? Como saber quando o sinal ainda está verde?


Economia aquecida, consumo em alta, oferta de crédito por todo o lado, e o pagamento a perder de vista. Quem resiste?

“É difícil ficar com o nome sujo. Ficar com o nome sujo não, tem que ficar com o nome limpo”, diz a assistente administrativa Marilene Moraes.

“Eu sentia vergonha de falar porque as pessoas te veem com outros olhos”, revela o vigilante Diego Melo e Rosa.

Mergulhar na roda viva do crédito pode paralisar a vida de uma pessoa. Qual é o limite de cada um? Como saber quando o sinal ainda está verde para continuar gastando? O sinal de alerta, o amarelo, é sempre muito rápido. Quando menos esperamos, ele muda. E aí, já não é mais possível avançar. É preciso parar e encontrar um jeito de sair do vermelho. Só que voltar para o verde é bem mais difícil do que se imagina.

Dívidas, quase todo mundo tem. Mas Diego e Marilene estão em outra categoria. Na defensoria pública do estado do Rio, pessoas como eles se encaixam no perfil do superendividado.

“A capacidade dele de pagamento não suporta a dívida mensal. Ele recebe um salário e aí ele não consegue arcar com o pagamento de suas dívidas”, mostra Larissa Devidovich, coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

O sinal ficou vermelho para Diego e Marilene. Para ele, há cinco anos. Para ela, há cerca de três. Na época, Diego era um caixa em um mercado, mas ficou desempregado. Marilene, contadora formada, se enrolou quando decidiu quitar o financiamento da casa em que mora. Mergulharam em terreno desconhecido.

“A falta de planejamento econômico, a facilidade do crédito, eu não tinha loja que eu não entrasse que as pessoas não me ofereciam cartão. Com várias possibilidades de você pagar, dividindo em 12 vezes sem juros”, lembra Diego.

“Ninguém liga para você para perguntar se você quer cartão, a gente fica se iludindo, aí fica toda boba porque recebeu um cartão”, admite Marilene. “É como se você estivesse com o poder na mão e você vai e extrapola.”

Quando começou a faltar dinheiro para o cartão de crédito, passaram a pagar apenas os valores mínimos.

“Quando vinham as faturas, a gente olhava e falava: ai, meu Deus, o que eu faço? Só vou pagar o mínimo. Aí me acostumei. Quando parei para pensar, vi que o valor nunca baixava! Só que quando eu pensei em parar já estava uma bola de neve”, conta Marilene.

“Então a conta só foi ficando alta. Eu não tinha condições de pagar”, acrescenta Diego. “Até o mínimo eu parei de pagar porque não tinha condições.”

Os juros dos cartões de crédito giram em torno de 10% ao mês. Se você só paga o mínimo, no mês seguinte a sua dívida vem acrescida desse percentual. Assim, a dívida só vai crescendo. São os chamados juros sobre juros. E o pior: muita gente que paga ainda não sabe disso.

“Não sabia quanto cobravam de juros”, reconhece Diego.

“Não sei. Tem que fazer os cálculos para saber os juros, né?”, diz Marilene.

Com a vida financeira paralisada, Diego e Marilene pediram empréstimos no banco. Pagaram algumas dívidas, mas fizeram outras. Depois, pararam de pagar as parcelas dos empréstimos bancários, o que só fez aumentar a bola de neve.

Marilene continuou trabalhando como auxiliar de escritório. Diego fez curso de vigilante, mas vivia fazendo bicos de pedreiro e de camelô, pois emprego que é bom ele não conseguia.

Para o superendividado desempregado, sair do vermelho é bem mais penoso. Com o nome sujo, quem consegue emprego? As empresas não querem endividados nos seus quadros. E sem salário, como pagar as dívidas e limpar o próprio nome? Uma equação difícil de resolver.

“É uma situação horrível”, lamenta Diego. “Porque é como se a pessoa que estivesse devendo não fosse uma pessoa honesta. Eu queria um emprego para ver se eu conseguia sanar a dívida e as empresas sempre fechavam a porta.”

É quando todas as portas se fecham que os superendividados como Diego e Marilene buscam ajuda nos órgãos de proteção ao consumidor. A defensoria pública do estado do Rio criou um serviço pioneiro, que hoje também funciona na maioria dos estados. Os superendividados encontram apoio, orientação e, principalmente, conciliadores que buscam junto aos credores condições de pagamento.

“A redução das dívidas na negociação varia muito, mas de um modo geral a gente já conseguiu abatimento de 80% da dívida” diz a defensora pública Larissa.

A comissão de superendividados da defensoria no Rio ajuda neste momento 150 pessoas como Diego e Marilene na renegociação de dívidas.

“Eu já tinha desistido porque a minha dívida estava em R$ 13 mil. E eu não teria condições de pagar isso com o salário que eu ganho”, conta Diego.

Diego participou de uma audiência com cinco credores. Teve as dívidas reduzidas, parceladas a longo prazo e vem pagando há quatro meses. Faltava apenas negociar com um credor para limpar o nome dele: a loja onde comprou um freezer. Mas antes disso ele já conseguiu um emprego.

“Teve uma empresa que acreditou no meu trabalho, me deu essa oportunidade de mostrar o meu trabalho e eu estou nela até hoje”, diz.

Segundo a coordenadora do programa da defensoria do Rio, é cada vez maior o número de empresas e instituições financeiras que aceitam conversar.

“Hoje em dia posso considerar que 95% dos convites que são feitos são aceitos. Então a gente procura mostrar que a negociação é o melhor caminho”, afirma Larissa.

A fórmula funcionou para Marilene. Ela só tinha um credor: o banco do empréstimo e do cartão de crédito. Conseguiu um acordo em uma audiência, um compromisso baseado na pontualidade do pagamento.

A defensora explica para Marilene que o credor reduziu a dívida de R$ 7 mil para R$ 3,9 mil, mas, como ela será parcelada em 60 meses, ao final desse período Marilene vai pagar R$ 4.156. Larissa avisa que, até o dia 15, a parcela é de R$ 69,27. Depois, é de R$ 287,66. “Deus me livre”, rejeita Marilene.

Diego também voltou à defensoria para negociar o pagamento que faltava, o do freezer. No caso dele, são dez parcelas de R$ 86,98.

“Vou pagar todas”, garante Diego. “Faço questão. Eu não entrei, não procurei a defensoria só por procurar, eu procurei porque eu queria resolver o meu problema. Era um problema que me incomoda e me atrapalha.”

“É muito importante que as pessoas entendam, principalmente os credores e a própria sociedade como um todo, que faz parte do conceito do superendividado a questão da boa fé. Na verdade, ele foi levado àquela situação. E quando ele procura a defensoria pública, por exemplo, ele demonstra a sua boa fé, a sua intenção de negociar”, ressalta Larissa.

Uma das vantagens da negociação é o compromisso de limpar rapidamente o nome dos superendividados.

“O que a gente bota nos acordos: pagou a primeira parcela, cinco dias úteis de um modo geral, o nome dela sai dos cadastros, e isso dá uma felicidade. É muito bom ver como a pessoa, o brasileiro de um modo geral, dá muita importância para o seu nome. É a dignidade resgatada”, acrescenta Larissa.

“Eu entrei com o objetivo de limpar meu nome e eu estou conseguindo”, comemora Diego.

“Você pode estar com R$ 1 no bolso, não tem problema, mas está com o teu nome limpo”, concorda Marilene.

Os resultados de negociações como as de Diego e Marilene foram positivos, mas mesmo assim eles estão comprometidos até o fim dos pagamentos. Diego tem ainda 20 meses para quitar as dívidas. E Marilene, cinco anos.

“A gente aprende também com a dor. Eu aprendi e estou aprendendo até hoje”, diz ele.

“O futuro vai ser maravilhoso. Com essa experiência toda que eu passei, eu tenho que aprender. Com certeza eu aprendi”, diz ela.

O conselho dos especialistas é descobrir qual é o nosso limite e ficar sempre atento para que o sinal verde esteja aberto para nós. O segredo está no tamanho da fatia da nossa renda mensal que podemos comprometer com prestações.

Larissa afirma que até 20% é muito confortável, está no sinal verde; 30% está no amarelo; 40% no laranja; mais de 40% é completamente vermelho.


FONTE: GLOBO REPÓRTER

2 comentários:

Mari disse...

Boa tarde, Gostaria de saber se alguem pode me ajudar, moro em Contagem-MG e estou com duas dividas de cartao de credito e não estou conseguindo resolver atravez da credicard, queria saber onde que procuro, se vou direto no Procon ou Pequenas Causas.Obrigada pela atenção e aguardo um retorno.

Aldineide Rios disse...

primeiro faça uma carta endereçada a operadora do cartão informado que sua situação está difícil e não tem como resolver a situação sem um parcelamento, faça a carta em duas vias e protocole uma ou envie uma carta registrada.

Se não tiver solução vá ao procon e peça ajuda para resolver.

Tem cidades que exite uma defensoria pública para ajudar nas negociações. descubra se em sua cidade tem uma.

Boa sorte e sucesso!